MICHAEL COLLINS // Astronauta // Roma (ITA), 1930 – Naples (Flórida, EUA), 2021//
Lua, 20 de julho de 1969. Enquanto Neil Armstrong e Buzz Aldrin davam o proverbial «salto gigante para a humanidade», um terceiro astronauta ficou para trás. O sucesso da missão exigia alguém «ao leme» do Columbia, o módulo que transportou a equipa até à órbita lunar. Alguém com experiência de voo espacial e em manobras de acoplagem. Alguém como Michael Collins.
O «primeiro homem a não ir à Lua» nasceu em 1930, em Roma, e graduou-se na academia de West Point aos 22 anos. Fez carreira na Força Aérea, especializou-se em manutenção, deu formação e acumulou horas de voo suficientes para garantir, em 1960, um lugar como piloto de testes. Passados dois anos, concorreu ao programa espacial da NASA. Falhou o lote de escolhidos, que incluía Armstrong. Insistiu em 1963 e foi aceite.
O protagonismo não interessava a Michael Collins: «Heróis há muitos, e devem ser admirados como tal, mas não contem os astronautas entre eles.»
A sua primeira missão foi ficar em terra: coube-lhe o posto de suplente de James Lovell no voo Gemini VII. Em 1966, incorporou a missão Gemini X como piloto, acrescentando ao currículo a aproximação e acoplagem ao veículo-alvo Agena e a execução de dois ensaios bem-sucedidos de actividade extraveicular (deslocação em espaço aberto).
A experiência deu-lhe argumentos fortes para o que se seguiria: ser o terceiro homem na missão mais emblemática de todas, a Apolo XI, que aterraria na Lua em 1969. «Seria um tolo se dissesse que fiquei com o melhor lugar, mas posso dizer com toda a verdade que estou totalmente satisfeito com aquele que me calhou», afirmou numa bem-humorada auto-entrevista em 2009.
Durante a missão, enquanto Armstrong e Aldrin pisavam solo lunar, Michael Collins passou 27 horas sozinho no módulo de comando. Uma solidão que se acentuava de cada vez que o Columbia, no seu movimento orbital, atravessava o lado “negro” da Lua – o ponto mais longínquo que um ser humano poderia estar de toda a civilização. Nesses períodos de 47 minutos, que se repetiam a cada uma das 14 órbitas que completou, interrompia-se toda a comunicação com a base terrestre. “Desde Adão, nunca um ser humano conheceu tamanha solidão”, comentou o operador do controle da missão, na NASA.
Sobre a sua não-ida à Lua: «Seria um tolo se dissesse que fiquei com o melhor lugar, mas posso dizer com toda a verdade que estou totalmente satisfeito com aquele que me calhou».
No total das duas missões, Michael Collins passou 226 horas no espaço. No regresso à Terra, os três astronautas foram aclamados como heróis, e receberam de Richard Nixon a Medalha Presidencial da Liberdade.
Collins preferiu manter-se afastado dos holofotes: em 1970, deixou a NASA para dirigir o National Air & Space Museum e, ao cabo de uma década, passou para o sector privado. «Fizemos o nosso trabalho na perfeição, mas foi para isso que nos contrataram», desmistifica. «Heróis há muitos, e devem ser admirados como tal, mas não contem os astronautas entre eles.» Morreu a 28 de Abril de 2021, como procurou viver: longe dos holofotes.
Artigo originalmente publicado na edição de Janeiro de 2015 da revista Volta ao Mundo.
[Ilustrado com montagem Grémio Geográphico sobre imagem de direitos reservados, obtida aqui.]