37°57’20″N 126°40’38″E
O nome soa a ironia. Chama-se DMZ, sigla para Zona Desmilitarizada, mas é uma das linhas de fronteira mais guardadas do mundo, e atravessá-la é morte certa. No entanto, tornou-se uma das principais atracções turísticas da Coreia do Sul.
O vaivém de autocarros apinhados de excursionistas é constante em torno de locais históricos como a Ponte de Não-Retorno, bem como nas lojas de recordações onde se pode comprar pedaços da vedação original ou t-shirts que atestam «Eu estive na DMZ».

A DMZ será também, talvez, a linha fronteira mais larga do mundo, um traço de 250 quilómetros de comprimento desenhado com o marcador mais grosso alguma vez usado em cartografia – de cada lado da linha do armistício de 1953, foi estipulada uma zona-tampão com dois quilómetros de largura, o que, contas feitas, significa quase 18 quilómetros quadrados (o equivalente à área da ilha do Corvo) de terra de ninguém.

No seu interior, cabem uma moderna estação de comboios por estrear, quatro túneis escavados na rocha granítica pelo Norte para uma invasão que nunca aconteceu (ambos visitáveis, através de excursões organizadas a partir de Seul), mas também uma aldeia com 200 habitantes que se recusaram a abandonar o seu espaço quando a linha foi traçada – e, do lado Norte, a cidade-fantasma de Kijong-dong, erguida para fingir progresso e cativar dissidentes do Sul.
Em simultâneo, mas num plano diametralmente oposto, a DMZ é um santuário de vida selvagem, resultado de seis décadas livres de atividade humana. Irónico.
Artigo originalmente publicado na edição de Novembro de 2017 da revista Volta ao Mundo
[no destaque: montagem sobre mapa Google Maps; fotografias Grémio Geográphico]