Há muito tempo, numa galáxia muito distante, havia um planeta inóspito, hostil e desolador onde, contudo, toda a gente parecia querer estar. Um duplo pôr-do-sol pode ter esse encanto.
«Se o universo tiver mesmo um centro brilhante, nós estaremos no planeta mais distante desse ponto.» Não é um grande slogan turístico, mas Luke Skywalker sabe do que fala. Afinal, o herói revolucionário intergaláctico cresceu e viveu boa parte da sua vida na vasta aridez de Tatooine. E, em boa verdade, o planeta-deserto, fustigado pelo calor dos sóis Tatoo I e Tatoo II, fica nos territórios da Orla Exterior, longe dos mundos civilizados e da ordem, mas também do punho cerrado dos vários regimes que têm vindo a governar a galáxia.

A lei do mais forte, essa aplica-se de igual forma. Se há um vazio de poder, pode sempre contar-se com o crime organizado para tomar a iniciativa. Em Tatooine mandam os grotescos hutts, raça alienígena de traços batráquios com propensão para a ganância. Os seus impérios são construídos em torno dos negócios de apostas, escravos e contrabando – «gente» que convém evitar a todo o custo e com quem não é salutar estar em dívida.
A maior cidade é Mos Eisley, um sítio sempre animado, mas nem sempre pelos melhores motivos. «Um deplorável covil de escumalha e vilania», outro slogan que também não fará grande furor estampado em t-shirts. Mos Eisley gira em torno do porto espacial, território de contrabandistas, pilotos freelancers e ocasionais brigadas de trânsito stormtroopers. A Cantina de Chalmun é outro sítio fantástico para «ver e ser-se visto», um animado freakshow, autêntica babilónia espacial com música ao vivo e um bar apetrechado onde todas as espécies são bem-vindas – à exceção dos dróides.
A maior cidade é Mos Eisley, um sítio sempre animado, mas nem sempre pelos melhores motivos. Mos Eisley gira em torno do porto espacial, território de contrabandistas, pilotos freelancers e brigadas de trânsito stormtroopers.
Quem passa por Tatooine não deve passar sem dar também um pulo a Mos Espa. Mais não seja para assistir às provas de podracers, versão de propulsão a jato das corridas romanas de bigas – um desporto violento, porém contagiante quando se está no meio de uma multidão de 100 mil… «pessoas» a aplaudir, insultar e festejar efusivamente tanto a prestação dos pilotos como os aparatosos acidentes.
De resto, Mos Espa – à semelhança de Mos Eisley – é uma cidadezinha de arquitetura tosca porém surpreendente, misturando torres de aspeto rétro-hitech e humildes casinhas de adobe cujo interior é uma surpresa, com sofisticados sistemas de arrefecimento e mobiliário de design space age.

Ir de uma cidade à outra é uma viagem pelo coração de Tatooine – tortuosa, porém essencial para compreender a geografia do planeta. Quem tiver pressa pode sempre ir de airspeeder, mas a travessia tem outro apelo se feita no dorso de um ronto, de um dewback ou de um eopie, três das espécies da fauna local mais utilizadas para transporte. De caminho, testemunha-se a dureza das condições de vida nas quintas de humidade, explorações de captura da pouca água existente na atmosfera (a do solo é ainda mais escassa), os destroços de naves de velhas batalhas e o estilo de vida nos jawas, que fazem do negócio ambulante de ferro velho o seu sustento.
No entanto, há que ter atenção a outro povo nativo, os Tusken raiders ou «homens da areia», que têm o hábito nefasto de raptar, torturar e matar viajantes. Fica o aviso: não convém ficar no deserto até muito tarde, ainda que o pôr-dos-sóis seja um espectáculo digno de se ver. Isso, sim, um belo postal turístico.

Tatooine é um dos cenários centrais da saga Guerra das Estrelas, de George Lucas. O nono capítulo, A ascensão de Skywalker, realizado por JJ Abrams, está em exibição nos cinemas.
Artigo originalmente publicado na edição de Dezembro de 2015 da revista Volta ao Mundo e ampliado em Dezembro de 2019.
[as imagens originais são propriedade da Lucasfilm/The Walt Disney Company / o Grémio Geográphico não detém quaisquer direitos]