Santo Tomás, Peru//
Há comida e bebida. E música, danças, roupas coloridas. Natal é tempo de celebração, mas também de união, o momento para pôr de lado desentendimentos pessoais e juntar toda a gente à mesma mesa. No entanto, na província de Chumbivilcas, a 220 quilómetros de Cusco, os desentendimentos são encarados de frente, fazem até parte do programa das festividades natalícias.
No dia 25 de dezembro, celebra-se o Takanakuy (lê-se «tá-kaná-kuí»), que na língua quíchua significa «quando o sangue ferve». Ou, dependendo de quem traduz, «andar à porrada»: homens, mulheres, crianças, velhos, toda a gente resolve as suas altercações ao soco e ao pontapé, quer se trate de disputas de terrenos, questões de honra, roubos de ovelhas ou de namorados(as). Ou simplesmente a boa velha embriaguez como motivação para esmurrar alguém. Seja qual for o motivo, combate terminado, assunto arrumado.
A tradição varia de terra para terra. Na capital Santo Tomás, o Takanakuy traduz-se em lutas civilizadas, sempre de um contra um, os punhos envolvidos em trapos e as caras ocasionalmente cobertas por máscaras coloridas. Há um árbitro, que nunca deixa os combates descambar, e o próprio público intercede caso se torne necessário. É proibido morder ou bater em quem está caído no chão, e todas as lutas terminam com um abraço ou um aperto de mão. Afinal de contas, é Natal.
Artigo originalmente publicado na edição de Dezembro de 2016 da revista Volta ao Mundo e reeditado a 16 de Dezembro de 2019
[montagem de destaque composta a partir de fotografia sem autoria atribuída, recolhida em FSCClub.com, e tipografia feita em arcade.photonstorm.com]
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