DUARTE PACHECO PEREIRA// Navegador, militar, cosmógrafo // Lisboa, c.1460 – 1533 //
Comandou a defesa de Cochim contra os ataques do samorim de Calecute, caçou piratas franceses no Atlântico e capitaneou a fortaleza de São Jorge da Mina, naquilo que é hoje o Gana. D. Duarte é um dos grandes heróis da História de Portugal, cognominado n’Os Lusíadas de Aquiles Lusitano, mas o seu currículo vai muito além dos feitos militares. Na verdade, o capítulo mais curioso da sua biografia é anterior a todas essas façanhas.
Duarte Pacheco Pereira nasceu em Lisboa, filho de João Pacheco, morto em combate em Tânger, e neto de Gonçalo Pacheco, servidor do Infante D. Henrique. Após a morte do pai, entrou ao serviço da Coroa, integrando expedições de exploração da costa africana. Em 1494, esse conhecimento acumulado valeu-lhe um lugar na comitiva enviada por D. João II a Tordesilhas para negociar o tratado que dividiria o mundo ao meio. E é aqui que as coisas se tornam mais interessantes – não sem alguma controvérsia à mistura.
Em 1498, D. Duarte terá contornado a costa brasileira, entre a foz do Amazonas e o litoral do Maranhão, e alcançado o mar das Caraíbas.
Fazendo fé na interpretação corrente de Esmeraldo De Situ Orbis, a inacabada súmula de geografia e cosmografia que escreveu entre 1505 e 1508, Pacheco Pereira embarcou, a mando de D. Manuel I, numa viagem de reconhecimento do Atlântico Sul, com o intuito de calcular a localização do meridiano de Tordesilhas e identificar os territórios pertencentes a cada lado da linha.
Corria o ano de 1498 quando, citando o seu livro, «passando além da grandesa do mar oceano», houve «hachada e navegada hua tam grande terra firme, com muitas e grandes ilhas adjacentes a ella». Ou seja, dois antes de Pedro Álvares Cabral, D. Duarte terá contornado a costa brasileira, entre a foz do Amazonas e o litoral do Maranhão, e alcançado o mar das Caraíbas – terras situadas no lado castelhano, motivo suficiente para o encobrimento do achado, por questões de diplomacia.
Esmeraldo De Situ Orbis cairia na obscuridade, tendo chegado ao prelo apenas em 1892. Continua, contudo, a ser um dos primeiros grandes relatos portugueses de viagens.
Pacheco Pereira morreria três décadas depois, no reinado de D. João III, pobre e desonrado, na sequência da confiscação de bens e da prisão por alegada apropriação de dinheiros públicos. O Esmeraldo De Situ Orbis também cairia na obscuridade, tendo chegado ao prelo apenas em 1892, por ocasião do quarto centenário da chegada de Cristóvão Colombo às Américas. Continua, contudo, a ser um dos primeiros grandes relatos portugueses de viagens.
Artigo originalmente publicado na edição de abril de 2015 da revista Volta ao Mundo
[no destaque: montagem a partir de litografia de Maurício José do Carmo Sendim (1786-1870), do arquivo da Biblioteca Nacional]